A nossa experiência de acompanhamento: Razões para não abortar

Razões para não abortar

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Possíveis motivos para não fazer um aborto

  • “Não vou ser capaz de ir contra o que me diz o meu coração para fazer um aborto! Eu nunca me perdoaria”.
    Estes e outros motivos semelhantes para não abortar são repetidamente mencionados pelas mulheres que acompanhamos.
  • “Eu vou ter esta criança. Não porque isso me faça feliz nesta fase, mas porque não a quero matar. Não iria conseguir lidar com a minha consciência. É também um ser vivo, tem direito à vida e não me cabe a mim decidir se irá, ou não, viver”.
    Estes são também argumentos recorrentes de mulheres que optam por não fazer um aborto.
  • “O medo de não voltar a ter a oportunidade de ter filhos está presente”.
    As mulheres que têm um grande desejo de ser mães, mas cujas circunstâncias não parecem ideais, mencionam frequentemente este argumento, quando questionadas sobre o motivo pelo qual optam contra um aborto.

Tem pensado em razões ou motivos para não fazer uma IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez)? Talvez esses pensamentos sejam parte de um processo de arrumação de ideias ou tomada de decisão. Mas talvez também esteja à procura de contra-argumentos, desvantagens ou razões que possam dar força à sua própria posição.

Em ambos os casos, está no sítio certo! Neste artigo encontrará razões internas e externas para não abortar.

Sugestão:


Porquê uma lista de razões para não abortar?

Talvez um aborto esteja fora de questão para si, mas pode sentir, ou desconfiar, que as pessoas à sua volta (talvez até o seu companheiro) a aconselham a abortar, ou chegam mesmo a pedir-lhe isso e é importante que tenha em mente bons argumentos para não interromper a gravidez, se não o quiser fazer. Porque ninguém tem o direito de a forçar a abortar. Por isso, é fundamental estar preparada para estabelecer uma linha que separe, nitidamente, aquilo que quer daquilo que não quer.

Por outro lado, mesmo de si para si, esta decisão pode não estar fechada. Nesse caso, pode ser bom pesar as desvantagens de um aborto, contra aquilo que lhe parece razão para não prosseguir com a gravidez. De modo a poder tomar uma boa decisão, especialmente quando se sente muito dividida, pesar com calma todos os prós e contras pode ajudar.

Em todo o caso, os motivos para não fazer um aborto são questões que pesam no seu processo interno. É por isso que lhe apresentamos algumas razões básicas que pode adotar como suas se lhe fizerem sentido:

Primeira parte: 4 razões externas para não abortar

Alguns argumentos para não fazer um aborto podem ser formulados de modo universal e claro. Vamos referir-nos a eles como “argumentos externos”, pois dizem respeito àquilo que é visível exteriormente e que, de alguma maneira, podem afetar qualquer mulher.

  • Um aborto é sempre uma interferência num processo natural do corpo e, como tal, comporta riscos físicos.

    Por exemplo, podem ocorrer danos, permanentes ou não, no endométrio, útero ou colo do útero — raro, mas possível.

  • Um dos efeitos do aborto vai ser o facto de que este filho não vai nascer. Não vai poder conhecê-lo nem viver muitas das alegrias que a maternidade traz consigo (pelo menos não com este filho).

    Se este pensamento é doloroso para si, é um argumento forte para não fazer uma IVG. Porque quando tomamos uma decisão contrária aos nossos sentimentos, a probabilidade de ficarmos marcadas é maior.

  • Fazer o relógio andar para trás: talvez você ou o seu companheiro tenham a esperança de que, depois do aborto, tudo volte a ser como era antes da gravidez.

    A nossa experiência de acompanhamento mostra que isso é normalmente uma falácia. Vai continuar a ser verdade que esteve grávida, quer tenha continuado ou interrompido a gravidez. Talvez a verdadeira questão deva ser formulada desta maneira: a grande mudança de vida já aconteceu. Sabendo isso, como quero continuar?

    As nossas decisões têm um efeito em nós, moldam-nos e acompanham-nos. Por isso, não é possível voltar ao momento em que a gravidez não tinha acontecido.

  • Se sente que a única maneira de se livrar da pressão dos outros é fazer um aborto, saiba que isso é, por si, um argumento para não o fazer. Por outras palavras: esta pressão exterior não pode ser uma razão para abortar.

    De acordo com a lei, o aborto pode ser feito desde que seja com o seu consentimento, e este consentimento precisa de ser dado em total liberdade. Ou seja, a decisão tem de ser sua e de acordo com a sua consciência e intuição, para poder fazer uso dessa liberdade de consciência tranquilamente.

    Porque seja qual for o caminho que escolher, é você quem terá de viver com as respetivas consequências.

Segunda parte: cinco razões internas para não abortar

Para além destes argumentos exteriores mais evidentes, existem também “razões internas” para não abortar. Isto engloba tudo aquilo que não é visível à primeira vista porque é vivido de modo particular na dimensão mais interior e profunda de cada mulher. Mas são precisamente estes motivos que não devem ser subestimados.

Porque se a procura pelas razões para não fazer uma IVG a afeta a si pessoalmente, e se sente confrontada com esta decisão difícil, é porque há realmente muita coisa a acontecer em si, agora! São dúvidas que giram em torno da questão:

Quem é você, quem quer vir a ser e como quer viver – e o que, entre aquilo que a define, pode ser um motivo para não fazer um aborto?

  • Nem todas as mulheres sofrem emocionalmente logo a seguir a interromper uma gravidez. Porém, surgem repetidamente relatos de mulheres que sofrem um mal-estar psicológico persistente depois de um aborto. Este mal estar pode assumir a forma de uma tristeza profunda ou a sensação de ter feito um erro irreversível.

    Por vezes estas consequências afetam os meses seguintes – ou mesmo anos – da vida da mulher.

  • Muitas mulheres em acompanhamento relatam que existe nelas qualquer coisa que ainda resiste à ideia de fazer uma IVG, algo que ainda as faz hesitar.

    Talvez também identifique essa voz em si mesma. Esta voz pode fazer-se notar de várias formas:

    • Algumas mulheres contam-nos que têm sonhos perturbadores antes da decisão, com a consulta prévia ou a consulta para terminar a gravidez.
    • Outras sentem-se desconfortáveis com o pensamento de abortar.
    • Também existem impressões emocionais muito intensas: algumas descrevem que, para elas, pensar num aborto se torna “difícil”, “sufocante” ou surgem receios.

    Em todas estas situações, há algo sempre recomendável: dar ouvidos a essa sua voz interior. Especialmente, quando se trata de tomar decisões importantes, compensa sempre seguir a nossa vontade mais profunda. Como uma bússola interior que pode indicar o caminho.

  • Aquilo que a leva a decidir fazer um aborto é não querer continuar a ser pressionada pelo seu companheiro, ou o medo de o perder (como talvez ele possa ter sugerido ou insinuado)? Se fizer este aborto “por causa dele”, é provável que isso não seja indiferente para si e para a sua relação.

    Não são raras as relações em que, embora o aborto seja feito para as salvar, acabam por terminar precisamente por esse motivo.

    O outro lado desta mesma moeda é que, na sua preocupação ou medo diante de uma gravidez não planeada, um homem pode precisar de bastante tempo e espaço para se aproximar dessa situação e aceitá-la. São muitos os pais que acabam por assumir, pouco a pouco, a sua responsabilidade, se lhes for dado tempo. Com um aborto, essa possibilidade fica anulada.

  • Além dos possíveis efeitos na relação, há que considerar os efeitos possíveis noutras relações familiares: as crianças, por exemplo, possuem uma capacidade extremamente apurada para captar o que se passa à sua volta, mesmo as mais novas e mesmo quando pensamos que sabemos protege-las. Muitas crianças desenvolvem alguma intuição sobre a decisão e os efeitos pós-decisão do aborto na família.

    Acima de tudo, a relação com a mãe é muito próxima e a criança desenvolve uma imagem intuitiva do interior da mãe. Não se pode descartar a hipótese de se espalhar uma insegurança profunda entre os irmãos e que acabe por se transmitir. Porque aquilo que a mãe sente, as crianças também sentem... às vezes como um pressentimento vago, ou mesmo uma certa tristeza em relação ao “lugar vazio” na família.

  • Em princípio, podia imaginar-se a ter (mais) um filho algures no futuro, mas no momento não parece nada que seja a altura certa? Já pensou se, a longo prazo, você (ou vocês os dois) avaliará a situação que vivem agora de modo muito diferente do de hoje? Tanto pode ser daqui a uns anos como pouco depois da decisão ser tomada e as alterações hormonais comecem a estabilizar…

    Quando não conseguimos ver para lá das limitações, afastarmo-nos um pouco e tentar ver a situação a partir de uma certa distância pode ser uma boa ajuda. Também pode imaginar-se no futuro, a olhar para a decisão que está agora a tomar...

Terceira parte: conclusões. Três ideias para continuar

Como pode constatar, as possíveis razões para não abortar são tão complexas e únicas como os corações das mulheres que vivem esta situação. Tudo depende muito do peso que atribui a cada argumento, num diálogo honesto consigo própria. As três ideias abaixo podem ajudá-la:

1. Dê tempo a si própria, sobretudo durante o choque inicial

Antes de tomar uma decisão definitiva, é fundamental e bastante valioso questionar-se a si própria sobre todas as razões internas e dúvidas que possa estar a viver.

2. Abra os olhos e o coração

Tenha coragem e confiança na sua “voz interior”. Não deixe de se manter atenta aos semáforos laranjas e vermelhos que encontrar dentro de si, e leve-os a sério.

3. Tome a sua decisão livremente

Sinta-se livre para demorar todo o tempo que precisar; livre para analisar todas as opiniões bem intencionadas ao seu redor; livre para se poder descobrir a si própria e livre para agir, corajosamente e com confiança, em função dessa descoberta.


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Autores & Fontes

Autores

Maria Nagele,
Pedagoga Social

Tradução: Maria do Rosário Boavida

Revisão

Equipa de psicólogos

Fontes

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