Casos específicos: Aborto seletivo

Aborto seletivo

1095111146 | Olena Yakobchuk | shutterstock.com

O que é um aborto seletivo? Com quem posso falar sobre isso?

  • Um "aborto seletivo" é realizado em ocasiões muito raras quando uma mulher se encontra a viver uma gravidez de gémeos, trigémeos ou mais.
  • Neste tipo de interrupção da gravidez, um ou mais fetos são selecionados e abortados. A gravidez continua a decorrer com o(s) restante(s) fetos, desde que não surjam complicações graves na sequência deste procedimento.
  • As razões mais frequentes para este tipo de intervenção estão relacionadas com diagnósticos pré-natal na sequência de rastreios feitos para despistar possíveis complicações. Muitas vezes só é possível aferir este tipo de diagnóstico numa etapa mais avançada da gravidez. Por este motivo, muitos dos abortos seletivos são feitos tardiamente.

Talvez o seu médico lhe tenha falado da hipótese de um aborto seletivo e você nem saiba muito bem o que isso significa ou quais as suas opções. É recomendável não permanecer sozinha nesta situação e levar o tempo que sentir que necessita para ponderar as suas alternativas. Afinal de contas, esta questão impacta a sua vida e importa encontrar um caminho com o qual se sinta bem a longo prazo! 💚

O que é um aborto seletivo?

Quando se fala em aborto seletivo, o termo refere-se geralmente a uma gravidez multigestacional em que objetivo é que pelo menos um dos fetos continue a desenvolver-se e a viver, e pelo menos um seja abortado. De acordo com certos critérios, um dos nascituros é selecionado para ser abortado.

Estas são algumas das razões que podem levar a considerar uma mulher ou a equipa médica que a acompanha a propor um aborto seletivo (talvez uma destas situações seja o seu caso):

1. Diagnóstico pré-natal

Quando os exames pré-natal apontam para indícios de uma anomalia, algumas pessoas consideram a hipótese de fazer um aborto seletivo. Estima-se que, durante os vários exames de rastreio pré-natal, uma em cada 20 gravidezes multigestacionais tenha pelo menos um feto com indícios de vir a ter uma anomalia. Nesses casos, por vezes opta-se por abortar o feto a quem essa anomalia foi diagnosticada.

Porém, são vários os relatos de mulheres cujos filhos tinham sido diagnosticados com algum tipo de anomalia e que, ao nascer, acabaram por verificar que eram crianças com um diagnóstico menos grave do que o esperado, ou até completamente saudáveis.

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2. Número elevado de fetos

Por vezes, algumas equipas médicas também ponderam em conjunto com a mulher a hipótese de fazer um aborto seletivo quando o número de fetos detetados é maior e, como tal, menos frequente (quadrigémeos, quíntuplos, etc.). Este tipo de situação não é rara na sequência de uma inseminação artificial, embora também possa ocorrer naturalmente. Quando se trata de uma gravidez multigestacional, é natural que os pais tenham várias preocupações. Ao se sentirem alarmados pelo número de futuros filhos, alguns casais consideram reduzir esse número.

👩‍👧‍👦 Tinha planeado ter um filho e, de repente, dá por si à espera de vários? Esta notícia surpreendente pode fazê-la sentir que alguém lhe puxou o tapete debaixo dos pés e pensar se terá forças para cuidar de tantas crianças. Ou, então, talvez sinta que o que precisa agora é de um médico extremamente competente que a acompanhe durante esta gestação e que seja capaz de a fazer sentir que está em boas mãos.

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Diagnósticos e fases da gravidez

Nos casos raros de gravidezes multigestacionais, pode acontecer que a hipótese de fazer um aborto seletivo seja equacionada logo nas primeiras semanas de gravidez.

No entanto, é mais frequente que essa hipótese só seja debatida num ponto mais tardio da gravidez, quando o desenvolvimento e possíveis fragilidades físicas de uma criança são avaliadas com maior precisão. Essa avaliação acontece durante a ecografia morfológica, que por norma é feita entre as 21 e as 24 semanas de gravidez no Serviço Nacional de Saúde. Nessa fase de desenvolvimento, já é possível que a criança consiga sobreviver fora do ventre materno.

Por esta razão, um aborto seletivo é, na maior parte das vezes, um aborto tardio.

Para se fazer um aborto tardio, isto é, depois das 10 semanas, é sempre necessário haver um motivo sério como, por exemplo, uma malformação congénita grave. Excluindo os casos de crime sexual contra a mulher (em que a interrupção da gravidez pode ser feita até às 16 semanas), uma interrupção médica numa semana tão avançada terá de estar sempre ligada a um problema de saúde da mãe ou do(s) filho(s) por nascer.

ℹ️ Quando os médicos propõe uma redução do número de fetos (fetocídio), eles referem-se a selecionar um ou mais fetos no útero que serão abortados, reduzindo assim o número total dos fetos que se continuarão a desenvolver.

Muitos médicos não praticam este tipo de procedimento devido a questões éticas e também pelo risco – não negligenciável – que tal intervenção pode representar para os restantes fetos.

Emergência emocional

Ao surgir a hipótese de fazer um aborto seletivo, é possível que surjam inúmeros receios e ideias, que a podem levar rapidamente a um estado de emergência. Por isso, é importante recorrer a todo o tipo de ajuda e acompanhamento, bem como levar o tempo necessário!

Regra geral, as semanas mais “críticas” da gravidez já ficaram para trás nesta fase da gestação, em que é mais frequente a mulher dedicar-se a fazer planos para o pós-parto. Para além disso, a ligação emocional da mãe ao(s) filho(s) torna-se cada vez mais profunda.

De repente, a mulher precisa de gerir uma grande quantidade de nova informação e surgem-lhe dúvidas que a atormentam. A experiência indica que as mulheres que passam por esta experiência sentem-se frequentemente bloqueadas ou sozinhas: trata-se de uma reação compreensível que torna evidente a enorme angústia interior pela qual estão a passar.

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Procedimentos de um aborto seletivo

Dependendo da altura em que o aborto seletivo é realizado, podem ser utilizados diferentes métodos. Estes métodos também podem variar em função dos gémeos partilharem ou não a mesma placenta.

Nas primeiras semanas de gravidez, por vezes é possível realizar um aborto seletivo através do método de sucção (ou aspiração). Contudo, o risco de aborto espontâneo para o(s) outro(s) feto(s) aumenta significativamente, e não é possível selecionar, especificamente, um determinado feto.

O aborto seletivo através do fetocídio é mais frequentemente utilizado após a vigésima semana de gravidez, seguindo um processo como este:

  • Ao realizar uma ecografia, identifica-se a criança com probabilidade de possuir uma anomalia. Se houver várias crianças saudáveis, mas o objetivo for reduzir o número de fetos, é provável que o médico selecione os fetos mais pequenos ou, no caso de não apresentarem diferenças físicas, aqueles que estiverem mais próximos da parede abdominal.
  • Depois dessa seleção, o médico administra, através de uma seringa, uma injeção na barriga da mulher até ao cordão umbilical ou diretamente no coração do feto. Normalmente são dados analgésicos, e de seguida uma solução de cloreto de potássio, que pára a atividade cardíaca do nascituro.
  • Após este passo, o feto morto permanece no útero. Ou acaba por ser absorvido pelo corpo da mãe (se esta estiver ainda no início da gravidez), ou é retirado no momento em que a mãe dá à luz os filhos vivos. Neste último caso, é expectável que a equipa médica evite “procurar” o feto morto antes do parto, de modo a não aumentar o risco de aborto espontâneo ou parto prematuro para as outras crianças.

⚠️ Dado que esta injeção é um procedimento médico invasivo, existe sempre algum risco de que o aborto seletivo – tal como outros procedimentos médicos invasivos – possa causar sem querer um aborto espontâneo ou parto prematuro. Por este motivo, também aumenta o risco de vida para as crianças que a mulher deseja que nasçam.

Acompanhamento: um passo importante

Quando se coloca a questão de fazer um aborto seletivo, surgem vários pensamentos e dúvidas. Após o choque inicial, é possível que sinta necessidade de aprender a lidar com este diagnóstico inesperado e desconhecido ou com o número de crianças existentes nesta gravidez. Talvez gostasse de obter mais informação:

  • Como é possível gerir tantas crianças ao mesmo tempo, ou uma criança com necessidades tão especiais? Será que eu sou capaz?
  • Como devo fazer esta escolha? Qual dos meus filhos poderá viver e qual será abortado? Será que posso ou devo fazer uma escolha destas?
  • O que acontece à criança que sobreviver? Será que irá saber?
  • E se eu tiver um aborto espontâneo e perder todas as crianças?

Nesta situação, seja qual for a sua preocupação, vale a pena lembrar que, em última análise, a decisão será sua. Mesmo que a aconselhem num ou noutro sentido, você tem o direito a seguir a sua intuição e o seu coração.

Seja qual for o caso, também terá direito a receber cuidados médicos competentes e, se achar apropriado, consultar uma segunda opinião médica.
Se considera que o aborto não é o caminho adequado para si, mas sente-se extremamente sobrecarregada, vale a pena descobrir as várias ajudas e opções de apoio que podem existir perto de si para facilitar a gestão do dia a dia. Repetidamente, recebemos relatos de mulheres e de casais que afirmam que a vida com uma criança especial se torna bastante enriquecedora.

Se está a passar por esta dúvida de um aborto seletivo, não hesite em procurar apoio e informação. Desse modo, será mais fácil organizar sem pressas, passo a passo, as suas ideias e sentimentos, de modo a identificar um caminho com o qual tanto a sua cabeça como o seu coração estejam de acordo.

Teremos todo o gosto em apoiá-la e analisar consigo de que modo esta fase poderá ter um desfecho bom para si. Também nos pode contactar com outras dúvidas que a estejam a preocupar, relativas a esta gravidez.

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